Como o Célio de Barros e o Júlio Delamare me fizeram perder a fé na política

No início do ano, eu perdi completamente minha fé na política nacional. Simplesmente não conseguia entender como o governador podia simplesmente tomar uma decisão que afetaria a vida de milhares de pessoas sem ao menos dar ouvido a elas.

Eu ficava tentando entender o sentido... Como uma cidade que vai sediar as Olimpíadas daqui a quatro anos – e vai colocar muito dinheiro nisso – pode demolir os locais de treino dos atletas que vão representar o país nessa mesma Olimpíada, que é a competição esportiva mais importante do mundo?

A notícia da demolição do Parque Aquático Júlio Delamare (onde treinam atletas de natação, saltos ornamentais e nado sincronizado), do Estádio de Atletismo Célio de Barros (lugar que formou diversos campeões nacionais) e do Velódromo me abalou. E olha que eu nem sou uma das atletas que treinam lá. Eu me senti impotente, eu senti raiva. Afinal, o que eu podia realmente fazer para reverter essa decisão da alta cúpula da política do Estado? Parecia que eu estava vivendo uma monarquia, uma ditadura, qualquer coisa mesmo uma democracia...

Protestos vieram, fizeram barulho, e se foram. Atletas choraram, imploraram. O governador continuou ignorando. Para ele, só importava o dinheiro que iria ganhar construindo estacionamentos e lojas para o Novo Maracanã, o Maracanã da elite, o Maracanã dos gringos.



Como repórter do Esporte Essencial, entrevistei atletas, ouvi suas histórias. Descobri que é no Célio de Barros e no Júlio Delamare que muitas crianças cariocas têm o primeiro contato com o esporte. No final, com a demolição, todo mundo sairia perdendo: atletas, comunidade, esporte e até o país.

Sabe por que o país perderia? Porque a notícia repercutiu negativamente no mundo inteiro. Pegou muito mal para a imagem do país que quer se tornar potência olímpica. Será que uma potência olímpica despejaria seus atletas dos únicos locais de treino possíveis na cidade que vai receber os Jogos?

Isso tudo me deixou muito mal de verdade. Em uma das manifestações que tomou a Av. Presidente Vargas no centro do Rio, em junho, eu levei minha causa. Meu cartaz, embora pequeno, dizia: “Copa e Olimpíada para quem? Queremos esporte para todos!”.

No mês passado, tive a oportunidade de conhecer o novo complexo do Maracanã de perto. Realmente, o entorno do estádio ficou muito bonito. Ver crianças, idosos e adultos compartilhando do espaço para se exercitar fez parecer que a obra tinha valido a pena. Mas aí eu avistei o Célio de Barros. A visão me cortou o coração. Estava jogado às baratas, a estrutura precária. Meu cunhado até comentou: “Que coisa feia! 
Tem que demolir mesmo, até destoa do resto”. Destoa mesmo, porque em cima do Célio de Barros parece haver um sinal luminoso bem grande escrito “Descaso político!”.

Mas essa semana, as coisas mudaram. Parece que o povo finalmente começou a ser ouvido. Acho que os políticos, que por muito tempo mandaram e desmandaram sem serem incomodados, estão finalmente percebendo que devem prestar contas à população, que devem ouvir e atender suas reivindicações. Não foi para isso que eles foram eleitos?

A notícia de que o Júlio Delamare não será demolido e de que o Célio de Barros passará por reformas para continuar no Maracanã iniciou uma festa dentro de mim. Prestigiar estacionamentos e lojas em vez nos nossas atletas, aqueles mesmos que abdicam da própria vida para conquistar resultados para o país, parecia cruel demais. Até para o senhor governador.

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