Em cada lágrima




Eu já disse muitas vezes que o vôlei mudou minha vida e até a minha relação com a universidade, um lugar que eu não gostava de estar, mas passei a ter boas lembranças. Pela UFRJ, disputei quatro grandes competições universitárias. Em todas elas, sem exceção, saí de quadra chorando. Não pela tristeza da derrota, mas por outros sentimentos. Percebi que as várias fases da minha preparação podem estavam ali em cada uma daquelas lágrimas.

No JUCS de 2014, minha grande estreia, fiquei surpresa com a proporção do evento. Foi a primeira vez que disputei um campeonato com torcida (a favor e contra), com tanta gente assistindo, com arbitragem oficial, vestindo a camisa laranja e preta com a Minerva no peito. Na época, não entendia muito bem o vôlei de quadra, decorei minhas posições e fui lá fazer meu melhor. Mas como enfrentar o nervosismo diante de tanta insegurança e, pior, diante de um adversário forte como a PUC? Nossa, COMO foi difícil! Eu segurava o choro desde a metade do segundo set. Queria que acabasse logo, era quase uma tortura. Ao apito final, chorei mesmo. Chorei de tristeza pela derrota, mas acima de tudo, chorei de alívio por ter acabado.

Mas se foi quase tortura, por que eu continuei? Porque o abraço das companheiras de equipe e do técnico foi reconfortante. Porque ouvir a torcida gritando meu nome foi motivador.

Então treinei mais, entendi (finalmente) o jogo e me preparei para ser uma peça importante num time desfalcado. E assim fomos para Juiz de Fora disputar os Jogos, em novembro de 2014. Lembro desse torneio com muito orgulho e carrego até hoje a marca em meu corpo. Enfrentamos logo de cara as campeãs do Intereng, o mais forte torneio universitário: Engenharia UFF. Mas em vez de entrarmos em quadra com uma postura de derrota certa, fomos buscando ponto a ponto, lutando por cada bola. Fizemos um jogo equilibrado e mostramos o potencial do nosso time. No segundo set, bloqueei algumas vezes seguidas a central adversária e senti um calorzinho estranho no indicador direito. Ao pedido de tempo do nosso técnico, coloquei esparadrapo e voltei a jogar. Mas a dor ia piorando e acabei sendo substituída. Quando sentei no banco, eu desabei. Eu chorava de dor pelo meu dedo quebrado, era difícil aguentar. Perdemos, mas apesar de tudo eu conseguia sorrir porque tínhamos feito um grande jogo.

Depois de alguns meses de recuperação, voltei a treinar com ainda mais vontade de melhorar. Chegamos ao JUCS 2015 com a certeza que éramos o melhor time de vôlei que a nossa Atlética já teve. Por isso, a expectativa era alta – e o tombo também foi. Na semifinal, pegamos um adversário tecnicamente mais fraco e não soubemos vencer. Tomamos uma virada e o gosto da derrota foi amargo demais. O choro, que durou o dia inteiro, foi de frustração. O mais difícil de superar.

Mas precisei passar por tudo isso para saber valorizar o choro da conquista. Dois dias atrás, no Super 15, vencemos uma semifinal no tie break com direito a muita emoção. Ao apito final, foi impossível segurar toda a emoção. Por tudo que passamos, por todos os finais de semana dedicados ao vôlei, pelo tanto que treinamos, essa prata tem muito valor.

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